quarta-feira, 12 de junho de 2013

Histórias de Alice - Jalapão


Histórias de Alice - Jalapão




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Minha saga pelo Jalapão – a ida


O Jalapão era objetivo almejado, rota prevista e desejada. Tínhamos intenção de chegar até Mateiros e de lá sair em busca das comunidades tradicionais, de um modo especial, procurávamos pela comunidade quilombola da Mumbuca.
Com mapa na mão e sonho bem sonhado no coração, chegamos à Ponte Alta, distante 150 Km de Mateiros. Rota a ser seguida por um estrada feita de areia fina e solta, que atravessa o Parque Estadual do Jalapão.
Eu uma kombi de 2 300 Kg, baixa, carregando ainda duas caixas d’água que quase tocam o chão e nenhum preparo off roader, a não ser dois galões de combustíveis extras e duas pranchas de madeira nova, recém cortada.
Todos os 4×4 me olhavam assombrados. “Mas o quê? Nem tente, você não conseguirá transpor o atoleiro”. “É só uma kombi”, diziam outros. Eu ficava quieta, calada. Tremia toda por dentro. Até o Chico que é tagarela estava calado.
Franco me deixou estacionada e foi pedir informação em uma pousada. Expectativa ruim. Teria que ser rebocada, fatalmente. E a má notícia: a maioria dos carros teimosos voltam guinchados, ou seja, quebradooooos. Será que isso também aconteceria comigo?
Belêco, guia local, que dirige um 4×4 poderoso, cansado de persuadir-nos a desistir da viagem, disse para meus tripulantes: “Saiam na minha frente e, se precisarem de apoio, guincharei vocês”.
Saimos às 6 da manhã. Sistema anti pó ativado, todas as minhas partes bem amarradas. Eu jurava que não iria fazer feio. E, além disso, eu contava com a direção sensata do Franco, apesar de saber que o meu motorista nunca dirigiu em areia dessa espécie.
Rodamos cada quilômetro esperando pelo pior. E o pior chegou quando tínhamos rodado 30 km. Mergulhei na areia com tudo. Mergulhei e fiquei. Quatro pneus atolados. Pânico na tripulação que logo puxou a prancha de madeira. Tadinhos… Ela nem fazia diferença. Lisa como só uma tábua sabe ser, queimei meus pneus nela e derrapei.
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Mas como anjos protetores costumam se disfarçar em humanos, eis que lá vinha uma moto. O rapaz, além de ajudar a sair da areia ensinou para meus tripulantes o uso de ramos para sair do atoleiro. Agora sim, tábua preparada, pneus forrados, motor a toda potência sai do primeiro buraco e cai em dois outros em seguida. Desespero total. Achei que ficaria já nos primeiros 30 quilômetros! Mas que nada! Técnica e força e vupt sai da areia. Dessa vez com um pequeno acidente: ao sair o pneu traseiro cuspiu a prancha de madeira que voou com força, direto para o joelho da Inês que empurrava o carro.
Voou com tanta força que achei que tinha quebrado o joelho da minha amiga. Quis ampará-la, mas não podia, se parasse na areia atolaria novamente. Ouvi seu grito e expressão de dor. Franco ficou preocupadíssimo… Vi a Inês engolir a dor solitariamente e mentir dizendo que não tinha acontecido nada. Por sorte tinha emplastros de Salompas dentro do carro.
Enquanto a dor diminuia sob efeito do medicamento, a estrada insistia em não dar alívio para meus pneus e motor. Depois de rodar 110 Km chegamos a Rio Novo, um atrativo bem legal, com praias para banho. A dois quilômetros dali, tem início treze quilômetros de atoleiro, um depois do outro. Desesperador!
Passei pelo primeiro e segundo, mas fiquei no terceiro que tinha uma extensão de aproximadamente 100 metros. Dessa vez fiquei literalmente atolada e sem perspectiva de sair pela extensão do atoleiro. Não dava para seguir nem prá frente e nem para trás. Que fazer? Sentar e chorar.
Mas que nada, antes eu não disse que os anjos se travestem de gente? Dessa vez, ele veio de carona no carro do Belêco. O poderoso 4×4 puxou a gente, e claro, estourou o amortecedor da direção. Coisa pequena: joelho e amortecedor estourados… e 40 quilômetros de estrada. Belêco desatou a fita salvadora e assassina. Instruiu o Franco: “Vou na frente e você me segue a toda velocidade, tá? Vou lhe mostrar por onde andar sem bater em pedras”.
Menino, você não acredita! Andei como um 4×4, deslizei na areia e não atolei mais. Isso foi até a entrada das dunas. Já era perto das 17 horas, nos despedimos do Belêco que foi fazer o passeio com a galera e seguimos para o mais terrível dos atoleiros. Dessa vez, precisou de dois 4×4 para me tirar. Foi terrível! Olhe as fotos do Antenor Cruz.
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Queria um Salompas para minhas dores, mas naquele deserto não havia nada. Meus tripulantes rezavam para eu chegar bem. Eu queria ser forte… O Chico percebia meu drama. Ele estava quietinho preso ao cinto de segurança de sua poltrona. Dentro de mim tudo era pó. O Chico de negro ficou vermelho, coitado. Mas não reclamou nem um pouquinho. Ficou lá dando a maior força.
Pois bem, eu tentei seguir inteira, devia isso para mim mesma, mas nos 10 quilômetros restantes, o hidrovácuo começou a vazar ar comprimido e o freio das rodas dianteiras travaram. Seguíamos devagar. Aí apareceu meu quarto anjo do caminho: um Land Rover, que atou a fita na minha parte traseira e veio andando comigo, para me segurar caso meu freio falhasse. Só que não falhou não. Cheguei em Mateiros. Ufa! Alívio Total.
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E, a volta? Aguarde cenas dos próximos capítulos.