Histórias de Alice - Jalapão
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O Jalapão era objetivo almejado, rota prevista e desejada. Tínhamos intenção de chegar até Mateiros e de lá sair em busca das comunidades tradicionais, de um modo especial, procurávamos pela comunidade quilombola da Mumbuca.
Com mapa na mão e sonho bem sonhado no coração, chegamos à Ponte Alta, distante 150 Km de Mateiros. Rota a ser seguida por um estrada feita de areia fina e solta, que atravessa o Parque Estadual do Jalapão.
Eu uma kombi de 2 300 Kg, baixa, carregando ainda duas caixas d’água que quase tocam o chão e nenhum preparo off roader, a não ser dois galões de combustíveis extras e duas pranchas de madeira nova, recém cortada.
Todos os 4×4 me olhavam assombrados. “Mas o quê? Nem tente, você não conseguirá transpor o atoleiro”. “É só uma kombi”, diziam outros. Eu ficava quieta, calada. Tremia toda por dentro. Até o Chico que é tagarela estava calado.
Franco me deixou estacionada e foi pedir informação em uma pousada. Expectativa ruim. Teria que ser rebocada, fatalmente. E a má notícia: a maioria dos carros teimosos voltam guinchados, ou seja, quebradooooos. Será que isso também aconteceria comigo?
Belêco, guia local, que dirige um 4×4 poderoso, cansado de persuadir-nos a desistir da viagem, disse para meus tripulantes: “Saiam na minha frente e, se precisarem de apoio, guincharei vocês”.
Saimos às 6 da manhã. Sistema anti pó ativado, todas as minhas partes bem amarradas. Eu jurava que não iria fazer feio. E, além disso, eu contava com a direção sensata do Franco, apesar de saber que o meu motorista nunca dirigiu em areia dessa espécie.
Rodamos cada quilômetro esperando pelo pior. E o pior chegou quando tínhamos rodado 30 km. Mergulhei na areia com tudo. Mergulhei e fiquei. Quatro pneus atolados. Pânico na tripulação que logo puxou a prancha de madeira. Tadinhos… Ela nem fazia diferença. Lisa como só uma tábua sabe ser, queimei meus pneus nela e derrapei.
Mas como anjos protetores costumam se disfarçar em humanos, eis que lá vinha uma moto. O rapaz, além de ajudar a sair da areia ensinou para meus tripulantes o uso de ramos para sair do atoleiro. Agora sim, tábua preparada, pneus forrados, motor a toda potência sai do primeiro buraco e cai em dois outros em seguida. Desespero total. Achei que ficaria já nos primeiros 30 quilômetros! Mas que nada! Técnica e força e vupt sai da areia. Dessa vez com um pequeno acidente: ao sair o pneu traseiro cuspiu a prancha de madeira que voou com força, direto para o joelho da Inês que empurrava o carro.
Voou com tanta força que achei que tinha quebrado o joelho da minha amiga. Quis ampará-la, mas não podia, se parasse na areia atolaria novamente. Ouvi seu grito e expressão de dor. Franco ficou preocupadíssimo… Vi a Inês engolir a dor solitariamente e mentir dizendo que não tinha acontecido nada. Por sorte tinha emplastros de Salompas dentro do carro.
Enquanto a dor diminuia sob efeito do medicamento, a estrada insistia em não dar alívio para meus pneus e motor. Depois de rodar 110 Km chegamos a Rio Novo, um atrativo bem legal, com praias para banho. A dois quilômetros dali, tem início treze quilômetros de atoleiro, um depois do outro. Desesperador!
Passei pelo primeiro e segundo, mas fiquei no terceiro que tinha uma extensão de aproximadamente 100 metros. Dessa vez fiquei literalmente atolada e sem perspectiva de sair pela extensão do atoleiro. Não dava para seguir nem prá frente e nem para trás. Que fazer? Sentar e chorar.
Mas que nada, antes eu não disse que os anjos se travestem de gente? Dessa vez, ele veio de carona no carro do Belêco. O poderoso 4×4 puxou a gente, e claro, estourou o amortecedor da direção. Coisa pequena: joelho e amortecedor estourados… e 40 quilômetros de estrada. Belêco desatou a fita salvadora e assassina. Instruiu o Franco: “Vou na frente e você me segue a toda velocidade, tá? Vou lhe mostrar por onde andar sem bater em pedras”.
Menino, você não acredita! Andei como um 4×4, deslizei na areia e não atolei mais. Isso foi até a entrada das dunas. Já era perto das 17 horas, nos despedimos do Belêco que foi fazer o passeio com a galera e seguimos para o mais terrível dos atoleiros. Dessa vez, precisou de dois 4×4 para me tirar. Foi terrível! Olhe as fotos do Antenor Cruz.
Queria um Salompas para minhas dores, mas naquele deserto não havia nada. Meus tripulantes rezavam para eu chegar bem. Eu queria ser forte… O Chico percebia meu drama. Ele estava quietinho preso ao cinto de segurança de sua poltrona. Dentro de mim tudo era pó. O Chico de negro ficou vermelho, coitado. Mas não reclamou nem um pouquinho. Ficou lá dando a maior força.
Pois bem, eu tentei seguir inteira, devia isso para mim mesma, mas nos 10 quilômetros restantes, o hidrovácuo começou a vazar ar comprimido e o freio das rodas dianteiras travaram. Seguíamos devagar. Aí apareceu meu quarto anjo do caminho: um Land Rover, que atou a fita na minha parte traseira e veio andando comigo, para me segurar caso meu freio falhasse. Só que não falhou não. Cheguei em Mateiros. Ufa! Alívio Total.
E, a volta? Aguarde cenas dos próximos capítulos.
Minha saga pelo Jalapão – a ida
O Jalapão era objetivo almejado, rota prevista e desejada. Tínhamos intenção de chegar até Mateiros e de lá sair em busca das comunidades tradicionais, de um modo especial, procurávamos pela comunidade quilombola da Mumbuca.
Com mapa na mão e sonho bem sonhado no coração, chegamos à Ponte Alta, distante 150 Km de Mateiros. Rota a ser seguida por um estrada feita de areia fina e solta, que atravessa o Parque Estadual do Jalapão.
Eu uma kombi de 2 300 Kg, baixa, carregando ainda duas caixas d’água que quase tocam o chão e nenhum preparo off roader, a não ser dois galões de combustíveis extras e duas pranchas de madeira nova, recém cortada.
Todos os 4×4 me olhavam assombrados. “Mas o quê? Nem tente, você não conseguirá transpor o atoleiro”. “É só uma kombi”, diziam outros. Eu ficava quieta, calada. Tremia toda por dentro. Até o Chico que é tagarela estava calado.
Franco me deixou estacionada e foi pedir informação em uma pousada. Expectativa ruim. Teria que ser rebocada, fatalmente. E a má notícia: a maioria dos carros teimosos voltam guinchados, ou seja, quebradooooos. Será que isso também aconteceria comigo?
Belêco, guia local, que dirige um 4×4 poderoso, cansado de persuadir-nos a desistir da viagem, disse para meus tripulantes: “Saiam na minha frente e, se precisarem de apoio, guincharei vocês”.
Saimos às 6 da manhã. Sistema anti pó ativado, todas as minhas partes bem amarradas. Eu jurava que não iria fazer feio. E, além disso, eu contava com a direção sensata do Franco, apesar de saber que o meu motorista nunca dirigiu em areia dessa espécie.
Rodamos cada quilômetro esperando pelo pior. E o pior chegou quando tínhamos rodado 30 km. Mergulhei na areia com tudo. Mergulhei e fiquei. Quatro pneus atolados. Pânico na tripulação que logo puxou a prancha de madeira. Tadinhos… Ela nem fazia diferença. Lisa como só uma tábua sabe ser, queimei meus pneus nela e derrapei.
Mas como anjos protetores costumam se disfarçar em humanos, eis que lá vinha uma moto. O rapaz, além de ajudar a sair da areia ensinou para meus tripulantes o uso de ramos para sair do atoleiro. Agora sim, tábua preparada, pneus forrados, motor a toda potência sai do primeiro buraco e cai em dois outros em seguida. Desespero total. Achei que ficaria já nos primeiros 30 quilômetros! Mas que nada! Técnica e força e vupt sai da areia. Dessa vez com um pequeno acidente: ao sair o pneu traseiro cuspiu a prancha de madeira que voou com força, direto para o joelho da Inês que empurrava o carro.
Voou com tanta força que achei que tinha quebrado o joelho da minha amiga. Quis ampará-la, mas não podia, se parasse na areia atolaria novamente. Ouvi seu grito e expressão de dor. Franco ficou preocupadíssimo… Vi a Inês engolir a dor solitariamente e mentir dizendo que não tinha acontecido nada. Por sorte tinha emplastros de Salompas dentro do carro.
Enquanto a dor diminuia sob efeito do medicamento, a estrada insistia em não dar alívio para meus pneus e motor. Depois de rodar 110 Km chegamos a Rio Novo, um atrativo bem legal, com praias para banho. A dois quilômetros dali, tem início treze quilômetros de atoleiro, um depois do outro. Desesperador!
Passei pelo primeiro e segundo, mas fiquei no terceiro que tinha uma extensão de aproximadamente 100 metros. Dessa vez fiquei literalmente atolada e sem perspectiva de sair pela extensão do atoleiro. Não dava para seguir nem prá frente e nem para trás. Que fazer? Sentar e chorar.
Mas que nada, antes eu não disse que os anjos se travestem de gente? Dessa vez, ele veio de carona no carro do Belêco. O poderoso 4×4 puxou a gente, e claro, estourou o amortecedor da direção. Coisa pequena: joelho e amortecedor estourados… e 40 quilômetros de estrada. Belêco desatou a fita salvadora e assassina. Instruiu o Franco: “Vou na frente e você me segue a toda velocidade, tá? Vou lhe mostrar por onde andar sem bater em pedras”.
Menino, você não acredita! Andei como um 4×4, deslizei na areia e não atolei mais. Isso foi até a entrada das dunas. Já era perto das 17 horas, nos despedimos do Belêco que foi fazer o passeio com a galera e seguimos para o mais terrível dos atoleiros. Dessa vez, precisou de dois 4×4 para me tirar. Foi terrível! Olhe as fotos do Antenor Cruz.
Queria um Salompas para minhas dores, mas naquele deserto não havia nada. Meus tripulantes rezavam para eu chegar bem. Eu queria ser forte… O Chico percebia meu drama. Ele estava quietinho preso ao cinto de segurança de sua poltrona. Dentro de mim tudo era pó. O Chico de negro ficou vermelho, coitado. Mas não reclamou nem um pouquinho. Ficou lá dando a maior força.
Pois bem, eu tentei seguir inteira, devia isso para mim mesma, mas nos 10 quilômetros restantes, o hidrovácuo começou a vazar ar comprimido e o freio das rodas dianteiras travaram. Seguíamos devagar. Aí apareceu meu quarto anjo do caminho: um Land Rover, que atou a fita na minha parte traseira e veio andando comigo, para me segurar caso meu freio falhasse. Só que não falhou não. Cheguei em Mateiros. Ufa! Alívio Total.
E, a volta? Aguarde cenas dos próximos capítulos.